quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Esquecer-me...

Lá onde estive nunca me cheguei a encontrar, cá onde me encontro persisto na busca incessante de mim! Hoje e deste lado tudo o que queria era esquecer-me de me procurar e, necessariamente, esquecer-me de mim, como se eu fosse mais uma página folheada do livro da vida, mais um dia que se vai...

domingo, 18 de janeiro de 2009

Silêncios...

Ainda me lembro de te sentir tão perto. Lembro-me de como era olhar-te nos olhos e saber que me ia encontrar no lugar mais profundo do teu olhar. Ainda me lembro do modo como o teu silêncio percorria o meu corpo. E era tão sutil esse teu silêncio incondicional e persistente que me despia de palavras e revelava a nudez dos meus erros. Trazias em ti as metáforas do silêncio e abandonavas as palavras. Muito banais e efêmeras. Sempre preferiste o silêncio e levaste-me a crer que preferias o meu silêncio no qual procuravas refúgio. Porque tiveste tanto medo? Partilhávamos este pacto de cumplicidades em silêncios e rotinas. Porque tive tanto medo..? Preenchíamos os espaços vazios do silêncio e deixávamos arder as palavras. Davas asas ao fascínio do tempo e juntos, assistíamos ao silêncio que ressurgia da espera das horas. São pássaros de fogo que iluminavam todos os lugares que um dia foram teus e hoje pertencem a ninguém. Hoje apenas são recordações de pretéritos e vestígios de aquilo que um dia eu julguei que fomos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Do vazio...

Poderia falar do vazio, mas ficaria sempre aquém dele e das suas margens. Porque ele não se reveste de palavras, apenas de formas de sentir. Poderia falar da sua presença física que me invade assumindo a forma de questões indissolúveis.Poderia falar deste vazio que faz tocar os sinos a rebate, dobrando em dúvidas e incertezas de aproximações. Falaria do vazio que me embala e por onde me divago na sua sala lívida raiada de branco. Porque neste vazio o branco é a ausência da cor e o vazio é a indefinição de todas as formas de sentir. Porque o vazio é alvo luto dos sentimentos abandonados ao tempo.Poderia falar do vazio que traz nocturno e sacrifica as horas para atingir a redenção da certeza, porém tenho as palavras amordaçadas e todos os meus apelos são silenciosos. Demasiado vagos que se extinguem nos arredondamentos das esperas e nas amarras da solidão.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Brincadeira

Pode ir? Eu pergunto, todos os dias desde o início da brincadeira.
Desde que me mandou tapar os olhos, e contar até dez.
Antes de poder sair lhe buscando pela casa. Pode ir?
Ecoa pelo que sobrou dela. Pergunta em forma de grito, enchendo os cômodos.
Mas você não responde. E eu procuro, e não encontro, e volto.
Todos os dias. Braço sobre os olhos, eu conto de novo, no escuro.
Pés machucados na madeira, já apodrecida. Sangue escorrido do corte.
Sofro. Mas não desisto desse esconde-esconde. Pode ir?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Guarde um lugar…




Guarde um lugar! O teu lugar em mim, aquele que tantas vezes me neguei. Aquele que tantas vezes te neguei. Foram tantas as que por mim passaram, foram tantas as que por mim quis que ficassem. Mas apenas tu aconteceste em mim. Apenas tu que me lês silenciosamente nesta sucessão de intimidades desavindas...






segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Curitiba, de costas

O texto publicado, remete o sentimento que, muitos como eu e M.M.J ( pois temos semelhanças nas migrações), imputamos a nossa amada e odiada Curitiba.
Como gaúcho levo as tradições no cerne de minha alma. Mas fico longe de qualquer "rótulo".
E me cansa esse orgulho "gaúcho,"levantado por medíocres e xenófobos. Em Curitiba sou apenas curitibano. E longe dela, também sinto saudades...

Olho Curitiba, de costas. Sinto saudades. É estranho partir deste lugar e sentir falta. Curitiba foi feita para ser abandonada, cidade chata, modorrenta, sem identidade cultural, sem um povo caloroso. Cidade sem nada. Não importa. Sinto saudades.Cheguei há muitos anos. Vivi antes numa cidade muito pequena (5 mil habitantes) e em outra muito grande (mais de 10 milhões de habitantes). Curitiba foi uma escolha apenas conveniente. Só isso. Mas, com o tempo, virei seu filho.Falo mal de Curitiba, o que é muito curitibano. Reclamo do trânsito. Prefiro a cidade calma onde cheguei pela primeira vez. Não consigo definir o que é ser curitibano. Mas amo este lugar, porque não há cidade onde se é mais livre de estereótipos. Não há uma música curitibana. Aleluia... Não há uma cultura curitibana. Viva...Somos tudo e nada no mundo. Isto é o que nos singulariza. Todas as culturas, todos os sons, todas as misturas vivem em um curitibano ciente de si.Tenho pena dos que estão presos à imagem que fazem de si mesmos: mineiros, paulistas, gaúchos, baianos, sertanejos, etc, etc, etc. Só um curitibano de coração é livre.Eu sou livre. Apesar das saudades.

Postado por M.M.J em , 18/12/2008

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vens...?

No fundo sabia que não percebias quando te perguntava pelo caminho. Não percebias quando te pegava na mão, quando te olhava nos olhos e permanecia em silêncio. Não percebeste a sombra no meu beijo nem quando deixaste de estar em mim.
Lembro-me quando, um dia, me pediste uma fotografia do meu amor por ti. Vesti-o da cor do tempo e procurei que o reconhecesses em ti, sobretudo que te reconhecesses em mim. Rasgaste todos os meus retratos. Porque o meu amor tem as cores da sepia e tu nunca deixaste de procurar as tuas cores.
Caminhei descalço por todos os lugares que foram nossos, porque eu conhecia-os de cor. Procurei por ti e olhei-te nos olhos. Estendi-te a minha mão, apontei-te um caminho, violei códigos de silêncio e segredei-te ao ouvido: “Não largues o meu olhar. Vens comigo?”
Apenas os meus passos ecoaram no espaço. Não vieste.