quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Solidão

Entra pela porta da frente. Não precisas bater. Vê o que eu construí longe de teus enredos.
Vê o quanto eu mudei só para te enganar.
Fiquei um tempo longe. Mas sempre volto. Isso te agrada? Velha amiga.
Revira as horas que tenho no meu quarto. Só para saber... Quanto tempo vais ficar?
Aqui já podes encostar e ficar a vontade. Quer ouvir um “blues”? Quem sabe um “fado”?
Comprei um livro. Vou devorar as paginas. Mas não ligue.
É só para te provocar.
Fique sentada. A noite logo chega. E não tenho mais mentiras.
E não tenho mais pra quem fingir. Vou sair. Quero te mostrar os prédios. Centenas de andares vazios.
Quero que vejas os portos, sem embarcações no cais.
As ruas cheias de luzes que tu odeias. Mas silenciosas. Como tu amas.
Vem para minha cama. Rouba meu calor e te alimenta de sussurros.
Vai gostar dos meus sonhos perturbados. De manhã te conto todos eles.
Não te preocupes. Não vou sorrir.
Só me diz... Quanto tempo vais ficar?


terça-feira, 25 de novembro de 2008

O amor não é um jogo

O amor, se fosse, seria um jogo estranho em que todos os jogadores perdem se jogam. Por que a conquista, o jogo de sedução, a invasão de um reino desconhecido, o desejo que se desperta no outro a fim de fazê-lo vir até nós, os óleos da cobiça e as fumaças da volúpia, nada disso é ainda amor. A paixão, vontade que se sente por uma projeção, é egoísta demais para ser chamada de amor.A paixão é o esteio afetivo dos adolescentes, seres só menos egoístas que as crianças, mas já sem a mesma pureza. A febre dos 15 anos parece a erupção mais voraz do amor. Não é. É só a expressão primeira de um sentimento novo e intenso. Intensidade não é necessariamente amor. Intensidade é só um vetorial. Qualquer sentimento, até o nojo, pode ser intenso.Amor pode ser intenso, mas vive do dia a dia, não das noites de verão, pois sua marca é a constância. Amor enreda planos, constrói respeito mútuo, admiração e desejo. Quando, por acasos ou descuidos, termina, ninguém vence. Todos perdem. Se no jogo da sedução, acabar um relacionamento é vitória, no amor é responsabilidade. A derrota menor acaba sendo de quem não teve que decidir, quem tentou evitar, pois parte sem culpa.Assim seguem os amantes separados: ambos perdem, como no frescobol. É possível acelerar, aumentar a intensidade, colaborar ou ficar no limite, mas não faz sentido tentar forçar o erro do parceiro.No amor, ninguém vence ao final do jogo. Vencer é continuar. Desejar, intensamente, as roupas de cama brancas sempre lisas, dia a dia, rotina previsível e indispensável. Apostar uma vida inteira e nunca jogar, nem mentir, nem enganar, nem dissuadir.Pois o amor só é um jogo na cabeça de quem não sabe amar, exceto a si mesmo.

Publicado por Mário M. Jr, em 25/11/2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Despedidas

Tia Eva, toda paz onde quer que esteja.
Quem traz em si o caminho
que é novo a cada momento
tem na inconstância do vento
o destino que lhe cabe.
Nem mesmo o destino sabe
o porquê destas partidas,
das múltiplas despedidas
que o tempo nos apresenta.

Eu levo um sol no destino
e a sombra por desafio,
um azul de céu imenso
e duas margens de rio,
um passado e um presente,
que dimensionam meu tempo,
um adeus de lenço branco,
que ficou no esquecimento.

Quando parti levei sonhos
e o coração do avesso,
as palavras de um verso
que eu só fiz o começo
e um baú de lembranças
de falso ouro, sem preço.
Quando parti levei sonhos
e o coração do avesso...

Pensei que fosse mais fácil
emoldurar o passado
num retrato amarelado
antigo quanto a saudade.
Quando se partem as metades
um lado procura o outro.
O que vai é o recomeço,
o que fica morre aos poucos

Na hora em que a alma dorme
nos tempos de cada um
a saudade é tão comum A
como a de estar ausente.
já não germina a semente
que ao solo se oferece,
somente os sonhos são férteis
em terra que nada cresce.
De Gujo Teixeira

sábado, 8 de novembro de 2008

Notícias

Em algum lugar, no norte do Paraná.


Não, eu não estou deprimido.
Não, eu não quero te impressionar.
Eu só quero te levar “cultura.”
Ser seu “amigo” para sempre.
Esqueça seus planos para o oeste.
E entenda...
A vida é difícil o bastante sem você aqui.
Uma pulseira de prata que sintila.
Uma pequena estrela que me cega.
Um cinto amarelo ou branco.
Que apenas me lembra de te pedir.
Me dê noticias gentilmente.
E esqueça seus planos para o oeste.
É a tocante marcha do tempo.
Que te cega.
Não me culpe.
Não me odeie.
Só porque eu sou o único que te diz...
Que a vida é difícil o bastante quando você não esta aqui.
A vida é difícil o bastante quando se está aqui.



quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Luto

Para JR . "Man a vida é cheia de possibilidades."


Ela troce as velas e as acendeu.
Quatro velas nos cantos do nosso quarto.
Troce o castiçal brilhante.
Comprou coroas de flores.
Suas flores e mentiras.
Vestida de véu e luvas de seda.
Negros como escuridão.
Escuro, nada se enxerga.
Velou o corpo.
Mas não chorou.
Selou o caixão e fugiu.
Não viu a terra o cobrir.
Não se despediu.
Contemplei a sepultura.
Vazio. Um pranto todo vazio.
Joguei uma rosa.
Agora a despedida.
Nosso amor.
Um futuro não vivido.
Ali sepultados.
Ergo os olhos.
Não estampo esse luto.
Ela não terá a alegria dessa dor.